
Os alquimistas foram precursores da Psicanálise ou da Psicologia.
Mais, tarde após a criação da psicanálise, Jung (Psicanalista, discípulo de Freud) rompe com Freud e vai criar seu próprio método de análise através do inconsciente coletivo , divisão da alma em anima e animus, pressupondo que os alquimistas projetavam sobre a matéria os conteúdos de seu inconsciente.
É essa hipótese, apresentada em Psicologia e Alquimia, que justifica a utilização do simbolismo alquímico para elucidar os sonhos e fantasias de seus pacientes. Reciprocamente, é ela também que serve de base para a interpretação dos textos alquímicos nos termos da psicologia analítica.
O que os alquimistas não gostam nessa visão é que ela pressupõe uma ingenuidade por parte do alquimista que, sem saber o que estava fazendo, exteriorizaria o desconhecido em si mesmo (a psique inconsciente) sobre o desconhecido no mundo (a estrutura da matéria).
No conto a Filosofia de um par de Botas encontra-se esta simbologia representada da seguinte maneira:
Botas – Proteção para o os pés caminhar.
Dono ou Proprietário-Caminho escolhido ou direção dado a vida , cada situação e cada dono representava a forma inconsciente do par de botas em relação ao seu momento de vida .
Danificada- Marcas das decepções, feridas e frustrações sofridas durante a vida.
Faltando um pedaço - perca de algo importante, aqui pode ser a juventude e a beleza.
Conserto, remendo-substituição do que foi perdido.
Debate filosofar – busca do bom senso ou da lógica.
Praia deserta-inutilidade
Ondas – movimentos inesperados da vida, sem controle do homem, emoções.
Devido sua preocupação moralista e amor que sentia por personagens humildes e desamparados como os camponeses.
A cor para ele é um verdadeiro veículo simbólico da espiritualidade.
As botas podem nos levar ao questionamento do que è uma coisa? Sendo que essa coisa pode representar e sofrer o armazenamento das vivências e experiências em si, essa materialização na obra de arte :
Ao observar o quadro podemos ver que há algo de pedra ou seja cristalizado, como há algo do couro ensebado e gasto nos sapatos de Van Gogh .
Podemos então pensar na história, no tempo e nos fatos que transformaram este objeto antes desejado, agora desprezado.
Podemos sentir na sua imagem o cansaço, que fala da vivência, das suas certezas, que expressam o sentimento de alguém que não sabe ou não pode falar.
A arte altera o Ser fazendo-o ser aquilo que ele não parece ser.
Durante seu trabalho , o pintor conduz sonhos situados entre matéria e Luz, sonhos de alquimista no qual suscita substâncias , aumenta luminosidade , modera os tons , determina os contrastes que revelam a luta dos elementos, que nos traduz em dinamismo.
O amarelo de Van Gogh é ouro alquímico, ouro colhido de mil flores, elaborado como o mel, não é nunca o ouro simplesmente do trigo, é um ouro individualizado pelos intermináveis sonhos do gênio., o bem de um homem o coração de um homem , a verdade elementar encontrada na contemplação de toda uma vida .
Diante desta produção uma nova matéria encontra o milagre das forças colorantes, cessando o debate sobre o figurativo ou não de forma que o elemento ativo envolvido na simbologia excita a matéria fazendo dela uma nova luz.
Ao olhar o quadro, poderíamos pensar que se trata de uma natureza morta, porém não está, pois elas estiveram calçadas em alguém, foram usadas pela vida, de kilometros e kilometros, andados, suados e sofridos, essas botas falam da vida como se fossem fósseis.
Está estrutura Figurativa é bastante diferente, apesar do final, a primeira está sob o chão? Fundo em piso cerâmico foi desenhado, praticamente chapado ao sapato e a forma, a ponto de ele se soltar, através de um decalque, a segunda é clara e escura que solta e levanta as botas do chão, percebemos que o fundo dialoga com o objeto.
Analisando psicologicamente a simbologia espelha valores e elementos que fazem parte da sociedade, de sua realidade social e criação intelectual, científica e artística.
A partir das "identificações" apontadas, apontadas nas duas obras, onde o filosofar faz referências às suas lembranças pessoais no conto fantasiado por Machado de Assis, também o pintor faz referência ao objeto , aos seus devaneios mais íntimos. Estes se constituíram como elementos básicos para a realização trabalho. As pistas iniciais para uma articulação do trabalho de criação da imagem, do conto interligando a história no passado, presente e futuro se lançaram na via de uma fenomenologia poética.
As obras deste trabalho se iniciam a partir de um texto que nos remete diretamente a uma imagem que se vincula tanto aos devaneios íntimos de Machado expostos pela filosofia das botas direita e esquerda, quanto os de Van Gogh ao princípio mágico originário da imagem no contraste entre claro e escuro , projetando os leitores tanto do conto quanto da obra para questionamentos futuros, assim como Bachelard conclui a seguir :
"toda minha solidão esta contida numa imagem primeira..no claro-escuro dos sonhos e da lembrança" (Bachelard, 1989 a: 58).
Observa-se assim que, desde os tempos antediluvianos, o princípio da luz, da chama, é o que nos remete à projeção das imagens, através do jogo de oposição complementar de luzes e sombras, reapresentação contínua da que também nos remete a "cena da caverna" de Platão. Pela referência ao simples ato de acender uma vela, pela simplicidade desta imagem poética, pretendemos aludir a uma centelha no acendimento dos princípios míticos relativos as "luzes da imagem", percebemos então à projeção de nossas próprias imagens metafóricas, em torno dos sonhos e das lembranças do filósofo.
Tanto para a obra de arte quanto, para a linguagem do texto, o elemento poético é a base de um processo de criação e re-criação de imagens, que serão sempre novas.
Assim como a vida em seus ciclos é a recriação de um novo ser, a cada dia.
Leila Uzzum /Dezembro de 2008
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