sábado, 21 de novembro de 2009

ESTÓRIAS INFANTIS OPORTUNIDADE PARA CURAR OS TRAUMAS






Há um tempo atrás dissertei sobre o complexo de cinderela, que para a psicanálise seria um representante psíquico dos complexos de Édipo e Electra.


Hoje, porém gostaria de explanar sobre histórias infantis, ou melhor, sobre a simbologia dos personagens das histórias infantis, dos livros, das novelas e dos filmes.

Personagens estes que se tornam representantes dos personagens reais na vida de qualquer pessoa realizando a elaboração dos conflitos emocionais através da fantasia, um veículo eficiente utilizado em várias formas de tratamento psicoterapêutico.

Simbolizar é uma capacidade nata do ser humano e tem origem nos impulsos de vida, regulados pelos impulsos de morte como forma de liberar a energia interna através da realização de um desejo proibido.

O sentimento de perda e de impotência perante a um sonho proibido e impossível de se realizar, leva o indivíduo a substituir o objeto perdido por outro.

Portanto, tanto as histórias infantis, quanto as adultas, são ferramentas para a formação das crianças e reeducação dos adultos, através da fantasia experiência da como um sonho que ilumina o ser humano no que lhe é nato.

Cada conto de fadas, cada cena de filme, cada capítulo de novela é a possibilidade que o ser tem de modificar seu caminho, é através das novas escolhas, novas atitudes e novos entendimentos para o suprimento das necessidades psíquicas que resultam em independência e maturidade.

As personagens das histórias disfarçam as instâncias psíquicas de formação do indivíduo, os relacionamentos com pai e mãe, os momentos bons e maus, as vivências necessárias para a transferência do amor direcionado aos genitores para seus representantes nas conquistas amorosas tanto para o homem quanto para a mulher.

O representante do irmão que passa a ser simbolizado pelo personagem perseguidor.

Ao desejo de justiça e os castigos merecidos das morais das histórias.

Tudo isso expresso por elementos simbólicos como, fadas que concedem o desejo no nascimento do herói, a madrinha que protege a criança indefesa dos perigos.

Simbolicamente as mães más são as que se opõem à iniciação “ A MADRASTA”.

A realização das fantasias inconscientes são encontradas nos contos de fadas, nas novelas e filmes, vejamos o exemplo:

Em três porquinhos podemos observar de forma clara a simbolização das três instâncias psíquicas ID, EGO E SUPEREGO.

O Id (criança interior) representado pelo porquinho que encontra prazer só no brincar. Aquele que percebe que é necessário construir uma casa firme é o representante do Ego ( O Ser realizando o sujeito ativo) e o Superego é aquele que fortalece a casa de forma que o lobo não consegue derrubar ou abalar suas estruturas , são normas castradoras intransponíveis da Educação.

Fica evidente a seqüência do desenvolvimento psicológico, através do irmão mais velho, aquele que demonstra sabedoria e conhecimento e só os tem porque cresceram e amadureceram.

Como veículo realizador de desejos, os contos de fadas permitem ao indivíduo a realização dos seus desejos mais torpes, frente à moral do Superego.

A simbolização presente nas Estórias permite ao ser humano uma viagem ao inconsciente para a reelaboração de seus próprios traumas sem catarses e sem angústias.

Para a criança é uma forma de vivenciar e obter prazer com a morte dos vilões representantes dos pais maus, uma vez que é angustiante admitir seu desejo de vingança em momentos em que os pais precisam corrigir atitudes comportamentais reprováveis, pois teriam sentimentos de culpa se esse extermínio ou vingança fossem reais.

As mães estão sempre presentes nas estórias simbolizadas por fadas, mães, madrastas, bruxas ou avós.

São aquelas que nutrem, dão carinho e acolhem imagem da mãe boa.

Mas tarde essas mães tornam-se madrastas e bruxas, mãe má, que abandona seus filhos na floresta como em João e Maria, perseguidora e rival como na estória da branca de neve, provocadora de rivalidade entre irmãos como é o caso da Madrasta da Cinderela.

A figura materna é de suma importância para o desenvolvimento infantil, na estruturação do Ego e conseqüente formação da identidade.

Mesmo em estórias onde a presença da mãe não é clara encontramos ela simbolizada em árvores como no caso da cinderela e a Aveleira que exerce essa função da mãe boa, que guarda a realização do sonho e do encontro com o príncipe encantado.

Porém a ausência da Mãe em Peter Pan faz com que ele não tenha um referencial para a estruturação de seu ego.

Peter busca sua identidade ao procurar sua sombra, embora o crescimento seja a pedra angular da história, ele vive em um mundo psicológico infantil, vive intensamente fixado na busca pelo prazer, satisfaz seus instintos constantemente , não pensa no outro, está fixado ou preso a fase do narcisismo primário , mal chega a ter consciência do próximo, preocupa-se apenas consigo mesmo.

Freud em seu livro sobre a interpretação dos sonhos (1900) ensina que a sensação de realidade do sonho traz um significado particular uma vez que o material reprimido possui qualidade de realidade, relacionando-se com fatos reais e não imaginários.

Então fica claro que as fantasias e também os sonhos permitem ao ser humano realizar desejos elaborar conflitos e decifrar o inconsciente.

Amadurecer de certa forma é complicado para todo ser humano, exige o corte definitivo do cordão umbilical, não só na dependência, mas também significa libertar-se da autoridade dos pais no caso do Peter Pan representando pelo Capitão Gancho.

E da relação simbiótica com a mãe na resolução das questões afetivas, nasce a libertação, o momento mais doloroso de todo o período de crescimento e amadurecimento do homem, uma vez, que a angústia da castração é muito ativa..

Por tudo isso, é que as estórias, novelas, e filmes estruturados por metáforas através de suas imagens simbólicas implícitas nos enredos e personagens atuam no inconsciente durante o desenrolar da do texto através dos símbolos imaginários, que são de suma importância para o comportamento humano, sendo o sujeito adulto ou criança estes personagens irão elaborar o desenvolvimento psicológico no decorrer do enredo e solucionar conflitos internos.

Esses conflitos inconscientes se esclarecem pela vivência simbólica e impessoal da estória, que concede a oportunidade para se visualizar os próprios conflitos, como um observador através da projeção que causa a crítica e traz a solução propiciando o amadurecimento emocional e psicológico.

Os conflitos inconscientes necessitam de elaboração para que o sujeito viva a experiência do equilíbrio psicológico, emocional e físico.

Então o conto de fadas torna possível esta situação e torna propício a reelaboração dos traumas através da simbolização.

Uma vez que um dos maiores desejos do ser humano segundo Freud é retornar ao útero Materno, símbolo do paraíso, as estórias se enceram com esse ensinamento do “ felizes para sempre”, que incorporam ao inconsciente o sentimento de esperança de poder retornar para casa, um lugar seguro e aconchegante, lugar onde geralmente nos sentimos felizes e protegidos.