terça-feira, 23 de março de 2010

PAISAGENS ÍNTIMAS



Enquanto o homem não se convencer de que lhe é necessário conquistar as paisagens íntimas, suas realizações externas deixá-lo-ão em desencanto, sob frustrações que se sucederão tantas vezes quantas sejam as glórias alcançadas no mundo de fora.



À semelhança de uma semente, na qual dormem incontáveis recursos, que surgem a partir da germinação, cabe ao ser humano desatar os valores que lhe dormem inatos, facultando-se as condições de desenvolvimento, graças às quais logrará sua plenitude.


Muitas vezes, as dificuldades que o desafiam são fatores propiciatórios para o desabrochar dos elementos adormecidos, e para que sua destinação gloriosa seja alcançada.

O homem de bem, que reúne os valores expressivos da honra e da ação edificante, faz-se caracterizar pelo esforço, pelo empenho que desenvolve, realizando o programa essencial da vida que é sua iluminação íntima.

Somente essa identificação com o si profundo facultar-lhe-á a tranqüilidade, meta próxima a ser conseguida.
Partindo dela, novas etapas surgirão convidativas, ensejando o crescimento moral e intelectual proporcionador da felicidade real.

Todas as conquistas externas - moedas, projeção social, objetos raros, moradia, eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos - não obstante úteis para a comodidade, a automação e sintonia com o mundo, bem como com a sociedade, não podem acompanhar o ser, quando lhe ocorre a fatalidade biológica da morte.


Cada qual desencarna com os recursos morais e intelectivos que amealhou, liberando-se ou não dos grilhões emocionais que o prendem às quinquilharias a que atribui valor.


Na luta pela aquisição das coisas, as batalhas se tornam renhidas, graças à competição, às angustiantes expectativas das disputas, nas quais o crime assume papel preponderante, com resultados quase sempre funestos.


Na grande transição, tudo aquilo que constituiu motivo de luta insana perde o significado, passando a afligir mais do que antes..


Não te descuides da auto-iluminação.


Se buscares a consolidação da estrutura socioeconômica pessoal e familiar, vai mais longe, e intenta a conquista dos tesouros íntimos.


Exercita as virtudes que possuis em germe, dando-lhes oportunidade de se agigantarem, arrastando outros corações.


Recorda-te, a cada instante, da brevidade do corpo físico e reivindica o treino para a morte, mantendo-te em serenidade, reflexão e ação iluminativa.


Vida interior é conquista possível, e está ao teu alcance.

Logra-a, quanto antes, e sentirás a imensa alegria da plenificação

DIA D





Se algum poder eu tivesse eu apagaria alguns dias, que são normais a tanta gente , mas poucos refletem , muito menos  repensam , apenas os deixam envenenar a mente.



São eles :


Dia de dor e confusão, dia de um calor horrível que queima por fora... dia de uma angústia sofrível que rola por dentro.


Dia de zoeira, tontura, zumbido... Dia de dúvidas cruciais que já nem distingo mais, se são reais ou banais.


Dia de ver o lado feroz de quem a gente ama, de ficar assustada, sem saber o que fazer, dizer ou pensar.


De sentir quase vontade de implorar que lhe digam que tudo é um sonho mal que vai passar, que ele não é mau, nem um mal... Que ele é de bem, e que é o bem maior e mais caro com quem a gente, sem medo pode sonhar...


Dia também e talvez, de desapontar o amado por não compreender.


De deixar vazar um lado nosso não muito bonito, fraco, falível, que cobra sem esmorecer.


Dia de sentir que tudo parece às vezes tão frágil e perecível... De se sentir desajeitada, sem graça, desencontrada como criança que leva uma descompostura e fica assim vexada, culpada, perdida, sem saber ao certo o que aconteceu ou se mereceu.


Dia de questionar se quer perder o brio e preservar o amor, ou se quer resguardar a dignidade e que se vá o dor... Mas não se tem parâmetros para distinguir uma coisa da outra.


Dia de não ser capaz de enxergar a oscilação do ponteiro interno, que registra a exata linha divisória entre o ser gentil e o ser servil.


Dia de ruminar dúvidas antigas e cogitar que há alguma coisa errada com a gente, pelas dores que se repetem e se repetem, renitentes.


Dia de se sentir completamente incapaz de interagir com maturidade e de se reconhecer sem suporte, para alcançar a extensão dos complicados e emaranhados intercâmbios humanos.


Dia de ter paciência, de esperar a tempestade passar, a poeira baixar, a lucidez retornar, e mais uma vez acreditar que o bem vai vencer e o amor triunfar...


E se tudo isto for apenas deixar-se enganar, que eu me engane com dignidade, posto que não há nesta vida nada que seja mais bonito que arrancar do peito os mais nobres sentimentos, que só brotam na alma de quem ama de verdade.

De quem aproveita a experiência de cada dia ,  vivencia  e reelabora, escrevendo sua história , fazendo as melhoras escolhas , vestindo a roupa do peregrino, que caminha por este mundo  numa rota contínua  que direciona-se sempre para cima e para o alto , mesmo que os escorregões aconteçam.