terça-feira, 23 de março de 2010

DIA D





Se algum poder eu tivesse eu apagaria alguns dias, que são normais a tanta gente , mas poucos refletem , muito menos  repensam , apenas os deixam envenenar a mente.



São eles :


Dia de dor e confusão, dia de um calor horrível que queima por fora... dia de uma angústia sofrível que rola por dentro.


Dia de zoeira, tontura, zumbido... Dia de dúvidas cruciais que já nem distingo mais, se são reais ou banais.


Dia de ver o lado feroz de quem a gente ama, de ficar assustada, sem saber o que fazer, dizer ou pensar.


De sentir quase vontade de implorar que lhe digam que tudo é um sonho mal que vai passar, que ele não é mau, nem um mal... Que ele é de bem, e que é o bem maior e mais caro com quem a gente, sem medo pode sonhar...


Dia também e talvez, de desapontar o amado por não compreender.


De deixar vazar um lado nosso não muito bonito, fraco, falível, que cobra sem esmorecer.


Dia de sentir que tudo parece às vezes tão frágil e perecível... De se sentir desajeitada, sem graça, desencontrada como criança que leva uma descompostura e fica assim vexada, culpada, perdida, sem saber ao certo o que aconteceu ou se mereceu.


Dia de questionar se quer perder o brio e preservar o amor, ou se quer resguardar a dignidade e que se vá o dor... Mas não se tem parâmetros para distinguir uma coisa da outra.


Dia de não ser capaz de enxergar a oscilação do ponteiro interno, que registra a exata linha divisória entre o ser gentil e o ser servil.


Dia de ruminar dúvidas antigas e cogitar que há alguma coisa errada com a gente, pelas dores que se repetem e se repetem, renitentes.


Dia de se sentir completamente incapaz de interagir com maturidade e de se reconhecer sem suporte, para alcançar a extensão dos complicados e emaranhados intercâmbios humanos.


Dia de ter paciência, de esperar a tempestade passar, a poeira baixar, a lucidez retornar, e mais uma vez acreditar que o bem vai vencer e o amor triunfar...


E se tudo isto for apenas deixar-se enganar, que eu me engane com dignidade, posto que não há nesta vida nada que seja mais bonito que arrancar do peito os mais nobres sentimentos, que só brotam na alma de quem ama de verdade.

De quem aproveita a experiência de cada dia ,  vivencia  e reelabora, escrevendo sua história , fazendo as melhoras escolhas , vestindo a roupa do peregrino, que caminha por este mundo  numa rota contínua  que direciona-se sempre para cima e para o alto , mesmo que os escorregões aconteçam.

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