Esta semana foi marcada por
movimentos, que há muito não se via em nosso país, ouvi muitos dizerem por ai,
que tudo na passava de baderna, arruaça, confusão.
Porém penso que a vida e os
acontecimentos sejam mais complexos do que nos são apresentado, principalmente
pela mídia, que manipula a mente da massa, para alcançar interesses
particulares, individuais e comerciais.
Antes de julgar um fato pelo que
é mostrado na TV, há a necessidade de avaliação da situação de forma impessoal,
observando todos os lados.
Um líder religioso já dizia que
as palavras têm poder, trazem consigo juízos de valor, visões de mundo e
intenções políticas. Por isso, o que é filmado, editado e mostrado pelas nossas
mídias merece análise e seleção.
Não dá para taxar os movimentos que se avolumam em São Paulo e
em outras partes do país, contestando o aumento das tarifas do transporte
público, como expressão de anarquia, posto que o interesse neste caso é
deslegitimar, este fenômeno que assistimos, com a volta das grandes manifestações
de rua, que estavam em baixa em nosso país nos últimos anos, por conta de uma
passividade excessiva, fundamentada no capitalismo que escraviza, na
desvalorização da educação que idiotiza e recalca os cidadãos a uma expressão infantilizada do individualismo,
onde a expressão maior é “Cada um por si e Deus por todos”.
Vislumbramos em várias
reportagens um discurso midiático, que apenas se preocupa com os impactos no
trânsito e a interrupção do fluxo, de automóveis, sobretudo, um discurso que
coaduna com o discurso das autoridades, como se o espaço público fosse local
apenas para uma coisa: o deslocamento ordenado entre dois espaços privados. Da
casa para o trabalho e do trabalho para casa.
Ou, no máximo, para o espaço
privado das compras, numa cidade pacífica e ordeira, sem pensar que este espaço
comum pode e deve ser o local da discussão dos temas e problemas que são comuns
a todos, como a mais pura expressão da Democracia.
No entanto há ainda o discurso da
classe média tradicional, eivada de pré-julgamentos e precipitação, ou até
mesmo de negligência em procurar entender do que se trata.
Para eles resta o discurso de que estes movimentos nada mais
são que a manifestação de rebeldia de um bando de filhinhos de papai
desocupados, eventualmente maconheiros ou manipulados por partidos políticos,
que novamente só querem o que? Fazer baderna, arruaça, confusão.
Percebe-se, portanto, que os
discursos se casam, fechando um círculo, sem explicar o que está acontecendo.
De tudo isso a única certeza que
se tem, se é que existe alguma, é que ninguém sabe muito bem o que está
acontecendo, nem os movimentos que convocam as
marchas, nem as autoridades, nem a imprensa, nem os intelectuais.
Porém é preciso prestar atenção no que está se
passando, posto que, a juventude, brasileira e a internacional, tem e sempre
terá suas demandas, e estão compreendendo que a democracia talvez esteja
completamente dominada, pelos grandes interesses privados, fortes e hábeis em
fazer lobbies junto ao sistema político para garantir seus próprios interesses,
antes e acima do restante da sociedade.
É óbvio que não se pode falar de
uma geração como um todo, mas talvez estejamos assistindo ao surgimento de uma
população de milhões de jovens, a nível mundial, que não apenas descreem de
grandes utopias igualitárias, mas descreem também dos partidos políticos, da
mídia tradicional e dos grandes interesses privados.
Talvez uma parcela importante da
juventude que não almeja pra si o futuro pacato e tranquilo prometido pelo
Mercado, em cujo horizonte os jovens seriam nada além de consumidores e
colaboradores, este termo oco com o qual as empresas passaram a se referir aos
seus funcionários de alguns anos para cá.
Engana-se quem pensa que o que
estamos vendo estes dias, seja motivado exclusivamente por R$ 0,20 a mais na
tarifa do transporte.
A juventude descobriu a liberdade
e a horizontalidade da internet, e agora quer experimentar isso na política
também.
Pois eles usam as redes, mas
estão nas ruas. E o Estado, diante disso, só tem duas opções: ou reprime com
violência ou se abre para o diálogo. Qual será que ele irá escolher?
Leila Sl Ribeiro Uzum